top of page
Buscar

A HISTÓRIA DA MARCHA PARA JESUS E AS RAZÕES DE CRISTÃOS BÍBLICOS NÃO PARTICIPAREM DO EVENTO

  • Foto do escritor: Prof. Gildo Gomes
    Prof. Gildo Gomes
  • 12 de fev. de 2023
  • 4 min de leitura


A Marcha Para Jesus foi oficializada no Brasil durante o governo do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, pela Lei nº 12.025, de 3 de setembro de 2009. No país o evento é comemorado no primeiro sábado subsequente aos 60 dias após o Domingo de Páscoa. Na esteira dessa visibilidade midiática surgiu o “Dia do Evangélico” (comemorado em 30 de novembro), data que varia conforme calendário municipal e estadual nas regiões do país. Há igrejas e cristãos que não participam embora o façam sem apresentarem as razões bíblicas. O escritor pentecostal Gutierres Fernandes Siqueira diz que a “Marcha para Jesus [é] um evento frequentado pelo evangélico mais, digamos, festivo. Não é o tipo de lugar que os evangélicos mais intelectualizados frequentem”1. Como sempre salientamos a participação num culto ou reunião religiosa não deve ser motivada por razões meramente pessoais ou denominacionais ou ainda intelectuais, e sim, primordialmente pelos princípios e doutrinas bíblicas. Geralmente elencamos cinco motivos que ferem as Escrituras na participação da Marcha Para Jesus:

1) A história e doutrinas antibíblicas do movimento;

2) Ausência de pregação e hinologia cristocêntrica;

3) Conceitos heréticos de batalha espiritual e métodos humanísticos de evangelização; 4) Evento aberto a todos os grupos religiosos (católicos, testemunhas de jeová, adventistas, espíritas), ou seja, qualquer religião é convidada a participar ativamente do megaevento. É por isso que é “cidade tal Marchando para Jesus”, pois o nome evangélico desapareceu para agregar todo mundo. Por exemplo, sacerdotes romanos são chamados para participarem, e muitos não comparecem pela rejeição histórico-doutrinária do protestantismo;

5) No palco tem-se a presença de políticos cujo acesso é facilitado e agradecido pelos recursos públicos investidos na marcha.

A Marcha Para Jesus começou no ano de 1987, em Londres, na Inglaterra quando o pastor pentecostal Roger Forster reuniu vários cristãos para orar pela cidade. No Brasil foi a Igreja Apostólica Renascer quem importou o evento no ano de 1993 e desde então acontece anualmente em diversas cidades do país em forma de grande passeata com show gospel, pulos, danças, atos proféticos, teologia do triunfalismo e da prosperidade, práticas neopentecostais e presença, palco e holofotes aos políticos. Antes desse ano, em 1991, já havia iniciado a Marcha Liberta Brasil. Com o Salmo 33.12: “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor” (e não “senhora” como eles diziam), evangélicos realizam uma vez por ano a marcha de intercessão em frente ao Congresso Nacional para acabar com a “maldição” do Brasil por causa do feriado de 12 de outubro2.

A Renascer em Cristo é uma igreja neopentecostal fundada na cidade de São Paulo em 1986 pelo casal Estevam Hernandes Filho, e sua esposa, a bispa Sônia Hernandes. O crescimento dessa denominação foi rápido, em 1998, a Renascer já contava com mais de 300 templos, em São Paulo, em outros estados e no exterior. É uma igreja onde as esposas dos pastores ocupam cargos de presbíteras e desempenham funções de co-pastoras. Em 1995, Estevam Hernandes numa Conferência Profética no templo sede da Renascer, foi consagrado a apóstolo. Hoje a Igreja Apostólica Renascer tem a patente da marca gospel no Brasil e comanda em São Paulo o megaevento da Marcha Para Jesus. Foi ela quem iniciou esse movimento no Brasil, deixando nele as marcas do neopentecostalismo – teologia da prosperidade, batalha espiritual, teologia do domínio e a Nova Reforma Apostólica.

Em 11 de novembro de 1993, a Renascer em Cristo realizou uma concentração para “quebrar o poder de maldição dos espíritos territoriais sobre a cidade de São Paulo”. Peter Wagner, o maior nome no mundo na defesa da Batalha Espiritual e da consagração dos apóstolos para nossos dias, teve seu ministério e doutrina apoiados pela Renascer no Brasil. É uma denominação que defende e pratica a teologia da prosperidade, usando o evangelho como meio para fins financeiros. Uma igreja que usou “revelação divina” para apoiar a candidatura de Paulo Maluf em 1998. A Marcha Para Jesus é neopentecostal e adotou as marcas da igreja de onde o movimento surgiu no Brasil.

Peter Wagner declarou em 2000 que estava aguardando que uma massa crítica de cristãos se levantasse e dominasse os sistemas políticos do mundo. Porém, ele acrescenta que isso somente aconteceria quando os “apóstolos de mercado” estivessem posicionados estrategicamente. Peter Wagner ainda diz que os motivos das marchas para Jesus, as caminhadas de oração e outros movimentos não funcionaram desde que surgiram em 1990, é que os “apóstolos de mercados” ainda não haviam sido instalados3. Os apóstolos de mercado influenciarão, segundo ele, na religião, família, educação, governo, mídia, artes e entretenimento chamados de “Sete Montanhas”.

O Movimento de Batalha Espiritual começa com o neopentecostalismo numa exegese errada de Efésios 6.10-20. Ao longo da história os cristãos nunca negaram que estão numa batalha ou guerra espiritual. Mas nas últimas décadas do século XX começou-se a ensinar sobre “espíritos territoriais”, ou seja, demônios que mantém determinadas regiões geográficas sob controle causando incredulidade e pecado. Para tal crença usa-se texto fora de contexto, como Marcos 5.9,10 cuja passagem correlata de Lucas 8.26-39 derruba a falsa intepretação. Com isso começou-se a fazer o “mapeamento espiritual” de uma cidade para identificar as “potestades espirituais”, ou localizar o “trono de Satanás” (Ap 2.13;2.9), e desfazer o quartel-general do maligno. Só depois se realiza a evangelização naquele lugar, bairro ou cidade. Na Marcha para Jesus se repreende as potestades nos fóruns de justiça, nas prefeituras, câmaras municipais e hospitais, pois se acredita que a violência, corrupção, doenças e males são obras de demônios cuja ação precisa ser neutralizada. Eles acreditam que assim como Israel marchou e as muralhas de Jericó caíram, a igreja marcha e os demônios são derrotados, sem perceberem que Israel não pregava o evangelho, mas como nação usava armas contra povos inimigos. A igreja usa a “arma espiritual” da proclamação do evangelho as nações. Os apóstolos e a igreja primitiva nunca fizeram uma marcha para Jesus em Corinto, Éfeso ou Roma, mapeamento espiritual e nem identificação de “espíritos territoriais” para libertarem as almas. É somente a pregação do verdadeiro evangelho que produz fé (Rm 9.10.17). E essa é a única marcha da igreja na história. “Prega a palavra, inste a tempo e fora de tempo...” (2Tm 2.2).


Referências bibliográficas

[1] SIQUEIRA, Gutierres Fernandes. Quem tem medo dos evangélicos?: religião e democracia no Brasil de hoje. 1ª ed. – São Paulo: Mundo Cristão, 2022. p. 27

[2] MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola. 5ª edição, 2014. p. 139

[3] LOPES, Augustus Nicodemus. Apóstolos: verdade bíblica sobre o apostolado. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014. p. 259

 
 
 

Comments


SOBRE NÓS

"Defendemos a total autoridade das Escrituras, a soberania de Deus, salvação pela graça através de Cristo e a necessidade do evangelismo."

LOCALIZAÇÃO

ICB Fortaleza:

Rua Hungria, 800, Maraponga, Fortaleza-CE 60710-560

ICB Aratuba:

Rua Júlio Pereira 153,

Aratuba-CE, 62762-000

 

© 2022 Igreja Cristã Bíblica

bottom of page