Professores de homilética ao versarem sobre a importância das ilustrações nos sermões afirmam que as mesmas são como janelas numa casa - deixam a luz entrar e clarear o ambiente. Charles Spurgeon, o Príncipe dos Pregadores, em “Lições aos meus Alunos”, escreveu um volume inteiro para explicar o valor das ilustrações. As parábolas na Bíblia são vistas como ilustrações nos sermões de Cristo, e mais do que isso, são verdadeiras mensagens do evangelho da graça soberana de Deus na salvação de pecadores. Jesus não foi o primeiro a ensinar por parábola na história, mas sua excelência e maestria no uso delas foi inigualável. Não sabemos ao certo quantas parábolas Cristo proferiu, pois, muitos autores incluem nessa conta metáforas e símiles. Para complicar mais ainda a contagem, em Lucas 4.23, Jesus cita o provérbio: “Médico, cura-te a ti mesmo”. A expressão aqui para provérbio, quer dizer parábola. Cerca de 40 parábolas foram ensinadas pelo Filho de Deus ao longo de mais de três anos de ministério. As parábolas eram tanto ilustrações quanto mensagens do Reino de Deus, manifestado em sua plenitude na pessoa de Jesus Cristo. Uma parábola poderia ser longa como no caso do Filho Pródigo (Lc 15.11-32) ou muito curta como a Parábola do Fermento (Mt 13.33). Independente disso, sua lição ou lições são riquíssimas para a vida cristã. Nelas aprendemos por exemplo, sobre os “solas” da Reforma Protestante, tipo “sola scriptura” (somente a escritura) como a parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31) ou ainda o “sola fide” (a justificação pela fé somente) como a parábola do fariseu e do publicano em Lucas 17.9-14. É nas parábolas também que temos o ensino das doutrinas da graça. A depravação total ou corrupção radical do ser humano bem como sua soberana salvação vemos nas parábolas do capítulo 15 do evangelho de Lucas.
Ao lermos as parábolas, geralmente indagamos: O que é uma parábola? Por que Jesus as utilizava em seu ensino? E no contexto atual, o pregador que usa apenas sermões narrativos ou anedotas no púlpito, pode justificar tal atitude no uso que Jesus fazia das parábolas? Parábola é uma história, mas nem toda história é uma parábola. Enquanto a história fornece um relato factual daquilo que aconteceu; a parábola quer explicar uma verdade espiritual do reino de Deus. Apesar de pensarmos em parábolas mais no Novo Testamento, o termo aparece quatro vezes no Antigo Testamento na NVI – Nova Versão Internacional: Sl 78.2; Ezequiel 17.2; 20.49 e 24.3. Há ainda a parábola da ovelha e o pobre (2Sm 12.1-5) e a caldeira fervente (Ez 24.1-5). Antes de Cristo, o famoso rabino Hilel, o Ancião (70 a.C. a 10 d.C.) ocasionalmente contou parábolas, mas somente Jesus fez uso extensivo em seu ensino.
No estudo das parábolas não se deve confundi-las com fábulas e nem com alegorias. Na fábula os animais, árvores ou seres inanimados, se comunicam como se fossem pessoas. As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis e o Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato são exemplos desse gênero. Existem fábulas na bíblia como as árvores que ungem o rei (Jz 9.8-15) e o espinheiro que fala ao cedro (2Rs 14.9). Já a alegoria diferente da parábola, nela tudo é uma comparação, ou seja, enquanto na parábola há um ponto de comparação principal, na alegoria são inúmeras comparações como acontece no Peregrino de John Bunyan. Na bíblia, um exemplo de texto alegórico encontra-se em Gálatas 4.21-31. A razão pela qual Cristo se comunicou por parábolas é comparável a sua oração em Mateus 11.25: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes estas coisas aos sábios e eruditos, e as revelastes aos pequeninos”. Ao ser indagado pelos seus discípulos sobre o motivo de falar por parábolas as multidões, Jesus responde: “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas não a eles. Por isso eu lhe falo por meio de parábolas; porque vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem”. (Mt 13.11,13). A soberania de Deus está presente em tudo, inclusive nas parábolas, cujo objetivo não é ser meramente pedagógica, mas manifestar a doutrina da glória de Deus na escolha de pecadores para o seu reino. Mesmo as pessoas mais preparadas intelectualmente, que entendem a letra da parábola, não compreenderão “os mistérios do reino”, pois o “homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus” (1Co 2.14). A pedagogia de Jesus no ensino por meio de parábolas não justifica pastores hoje defenderem mensagem apenas narrativa, sem advertências ou exortações nas pregações. No Sermão do Monte Jesus contou parábola somente na parte final (Mt 7.24-29). No evangelho de João tem-se muitos sermões de Cristo, mas nenhuma parábola. Na Bíblia as parábolas estão a serviço dos sermões e não o contrário. Também não se deve confundir parábolas com piadas e discursos para as pessoas rirem na congregação. A Bíblia nos diz que Jesus foi alvo de ódio pelos fariseus por causa do ensino das parábolas (Mt 21.45,46). Jesus não fazia de suas pregações e ensino de parábolas um show de standup como fazem certos pastores em nossos dias. As parábolas e todo o ensino de Cristo eram a expressão da verdade de Deus aos homens. Como disse John MacArthur: “Jesus era um exímio contador de história, mas ele nunca contou uma história apenas para entreter as pessoas. Cada uma de suas parábolas transmitia uma mensagem importante”.
Referências bibliográficas
1. Lições aos meus alunos, C. H Spurgeon. PES, 2004
2. Pregando as Parábolas, Craig L. Blomberg. Vida Nova, 2019
3. As parábolas de Jesus, John MacArthur. Thomas Nelson, 2018
4. Confissões de um pregador, Augustus Nicodemus. Mundo Cristão, 2023
Commentaires