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  • Foto do escritorProf. Gildo Gomes

GUNNAR VINGREN E “OS 2520 ANOS PROFÉTICOS” DE DANIEL 4


Jan Karel Van Baalen, escreveu no seu clássico O Caos das Seitas: “É bem verdade que uma criança pode achar o caminho da salvação por meio de um evangelho de João: é igualmente verdade que há na Bíblia passagens difíceis cuja interpretação ninguém deve tentar sem ter sólida base de instrução teológica, da mesma forma que ninguém deve estabelece-se como médico ou advogado sem primeiro ter estudado aquilo que a ciência médica ou a jurisprudência tem encontrado em gerações anteriores”1. A Reforma Protestante afirmou a perspicuidade da escritura, ou seja, a Bíblia é basicamente clara no que ensina e uma pessoa alfabetizada poderá lê-la e compreendê-la. No entanto nem tudo é igualmente claro já que certos textos são difíceis. O apóstolo Pedro referindo-se as cartas de Paulo disse que nelas “há pontos difíceis de entender” (2Pd 3.16). Na história temos vistos cristãos considerados sinceros cometerem erros graves na intepretação da palavra de Deus pelo fato de não estudarem afundo e nem usarem as ferramentas necessárias para entenderem corretamente o texto sagrado. William (ou Guilherme) Miller, no século XVIII, é um exemplo de uma exegese defeituosa de Daniel 8.14: “Ele me respondeu: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será purificado”. Suas conclusões dessa passagem resultaram na marcação dos anos 1843 e 1844 para a vinda de Jesus. O fracasso conduziu a outros pregarem uma heresia ainda hoje crida e anunciada pelos Adventistas do Sétimo Dia - a chamada doutrina do juízo investigativo2.

O missionário sueco, Gunnar Vingren (1879–1933), fundador da Assembleia de Deus no Brasil, igualmente cometeu um grave erro de interpretação bíblica no livro do profeta Daniel. Na publicação da 1ª quinzena de abril do jornal Mensageiro da Paz, em 1931, o mesmo escreveu num artigo sobre a vinda de Jesus: “O tempo dos gentios está para se findar. Este tempo é calculado em 2.520 anos proféticos, ou seja, sete tempos de 360 anos cada um. Este tempo está para se findar, um dos últimos sinais de que falou Jesus, a respeito de sua vinda, está se cumprindo hoje – o evangelho está sendo pregado a todos, “depois virá o fim”3. Apesar do autor não mencionar especificamente Daniel 4 sua explicação alude a esse texto. O missionário sueco faz referência ao sonho da estátua de Nabucodonosor de Daniel 2 e ainda cita uma irmã “cega” que numa visão viu um pé prestes a desaparecer e compreendeu que era o pé da estátua do sonho do rei da Babilônia. Gunnar Vingren não era um seguidor de Charles Taze Russel e nem acreditava na doutrina de que Cristo começou seu governo celestial em 1914, apesar de sua intepretação de Daniel 4 ser semelhante as Testemunhas de Jeová. A Sociedade Torre de Vigia ensina que os “sete tempos” de Daniel 4 equivale a 7 x 360 dias = 2.520 dias-anos. Esse cálculo é um malabarismo matemático adicionado a textos desconexos da bíblia4 que partindo de 607 a.C., chegou-se ao ano de 1914. Gunnar Vingren comete o mesmo erro e parece ver o cumprimento dos 2.520 anos próximo a sua época. Mas como Vingren cometeu esse erro se ele era um teólogo? Primeiro, teólogos também erram; e segundo, no caso de Gunnar Vingren sua formação teológica era bastante limitada. Quem já leu sua monografia de graduação defendida no Seminário Teológico Sueco de Chicago, EUA, percebe isso claramente5. Uma leitura atenta e contextual da expressão “sete tempos”, literalmente “sete estações”, esclareceria o assunto. O significado ou é sete anos ou metade desse período, pois na Babilônia se contavam duas estações, verão e inverno. Nesse tempo o rei Nabucodonosor, representado pela árvore que foi cortada, seria punido com uma doença chamada licantropia, segundo a qual a pessoa passa a se imaginar como animal selvagem e dessa maneira vive como se não fosse um humano. A Bíblia diz: “Seja mudada a sua mente... até que se passem sete tempos.” (Dn 4.16) e “Tu serás expulso...até que se passem sete tempos...”(Dn 4.25). O tempo não poderia ser de 2.520 anos, pois, o reino tirado de Nabucodonosor voltaria para ele depois de sua punição (Dn 4.26). O historiador Flavio Josefo cita o testemunho do sacerdote babilônico Berosso, segundo o qual o rei da Babilônia morreu após um tempo de debilidade6.



Referências Bibliográficas

[1] BAALEN, Jan Karel Van. O Caos das Seitas. São Paulo, SP. Imprensa Batista Regular, 1985 p. 148

[2] WHITE, Ellen G. O Grande Conflito. Santo André, SP. Casa Publicadora Brasileira, 1980. p. 328

[3] VINGREN, Gunnar. O Senhor Vem!. Artigo publicado no Mensageiro da Paz, 1ª quinzena de abril de 1931. Artigos Históricos vol. I. Rio de Janeiro: CPAD, 2004. p.84,85

[4] Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados: Cesário Lange, SP 1983. p. 140,141

[5] VINGREN, Gunnar. O Tabernáculo e suas lições. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

[6] Bíblia de Estudo Arqueológica. São Paulo: Editora Vida, 2013 p. 1391

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