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  • Foto do escritorProf. Gildo Gomes

SOLA FIDE: JUSTIFICADOS PELA FÉ SOMENTE

Estamos na semana da Reforma Protestante, ocorrida em 31 de outubro de 1517, em Wittenberg, na Alemanha. Entre os princípios bíblicos fundamentais está o sola fide ou a justificação somente pela fé. Essa doutrina é tão importante que Lutero chegou a dizer: “Pois se o artigo da justificação se perde, perde-se, ao mesmo tempo, toda a doutrina cristã”1. Logo de início entenda-se que a expressão “justificação somente pela fé” como diz RC Sproul é uma taquigrafia para encurtar a afirmação: “justificados somente pela justiça de Cristo”2. Em outras palavras, Cristo é nossa justiça e essa justiça nos vem pela fé. E assim Deus veste suas criaturas sujas com a capa da justiça de Cristo. Como diz o apóstolo, somos “vestidos com a couraça da justiça” (Ef 6.14). A justificação não é por causa da fé. A fé é o instrumento da justificação. Assim como o escultor cria uma estátua com o cinzel ou o médico usa o bisturi para a cirurgia, a fé é o instrumento, o meio da justificação. A justificação é conforme a fé, pela fé ou por meio da fé; mas nunca na Bíblia se diz que a justificação é por conta da fé ou por causa da fé. “O justo viverá pela fé” (Rm 1.17); “Justificados pela fé sem as obras da lei” (Rm 1.28); “o qual justificará por meio da fé” (Rm 3.30); “Portanto, justificados pela fé (Rm 5.1).


A Justificação pela fé antes da Reforma

A Igreja Católica desde o Concilio de Trento (1545-1563) amaldiçoou (anátema) todo aquele que cresse na justificação pela fé e passou a chama-la de heresia e invenção de Lutero. Infelizmente certos evangélicos de nossos dias fazem coro ao catolicismo e dizem que o sola fide é algo inexistente na história da igreja. Confessionalmente a jusitificação pela fé começa na reforma, historicamente porém, os Pais da Igreja criam na justificação pela fé e não pelas obras. Alguns inclusive, usaram a expressão “somente pela fé” como Orígenes (182-254): “Ele [Paulo] está afirmando que a justificação pela fé somente é suficiente, de modo que aquele que crê somente é justificado mesmo sem ter realizado uma única obra”3. Marius Vitorino (c. 290-364): “Nós não somos salvos por nossos méritos, como se por obras da lei, mas somente pela graça de Deus: é somente pela fé que se produz justificação e santificação”4. Teodoreto de Cirro (c. 393-457): “Pois, muitos séculos antes, eles [os profetas] haviam previsto que um dia haveria a salvação somente pela fé”5. A Epistola de Diogneto (2º século d.C.) chega a defender uma troca entre nosso pecado e a justiça de Cristo: “Ó, que troca doce, ó, que obra incompreensível de Deus, ó, que bênçãos inesperadas, que a pecaminosidade de muitos fosse oculta em um homem justo, enquanto a justiça de um justificasse a muitos pecadores!”6. Essa troca é o que o protestantismo chama de doutrina da imputação onde nosso pecado é imputado a Cristo e sua justiça é creditada a nós (Rm 5.3-5).


Quatro textos importantes na Justificação pela fé

Primeiro, o apóstolo Paulo diz em Romanos 4.2-6: “Porque, se foi justificado pelas obras, Abraão tem do que se gloriar, mas não diante de Deus. Que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi atribuído como justiça. Ora, o salário daquele que trabalha não lhe é atribuído como favor, mas como dívida. Contudo, ao que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, sua fé lhe é atribuída como justiça. Assim também Davi fala da bem-aventurança do homem a quem Deus atribui a justiça sem obras”. Em Rm 4.3 Paulo cita Gn 15.6 e desse modo a ideia de “imputação” (Almeida Atualizada e Corrigida Fiel) é apresentado pela palavra “creditado” (=“considerado”, “contado” ou “imputado” de Gn 15.6. A ligação com Rm 4.2 mostra que Abraão não foi “justificado por obras”. Tem-se aqui uma estreita conexão entre “justificação” (v.2) e “imputação” (v.3). A Bíblia nos ensina que a obra de Deus de justificação é a obra de Deus em imputar ou creditar justiça. A tradução católica de Pe. Matos Soares de Romanos 4.5 diz: “Mas ao que não opera, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé (lhe) é imputada como justiça, segundo o decreto da graça de Deus”. O ensino católico em querer diferenciar “obras da lei” de “obras de caridade”, não faz jus ao texto bíblico, pois, “sem as obras da lei” (Rm 3.28) e “sem as obras” (Rm 4.6) são termos tão próximos que se tornam sinônimos. Dessa forma disse John Piper, referindo-se ao apóstolo: “Ele não diz que Deus não imputa algo que já temos (como a nossa fé), como justiça. Ele diz que Deus imputa uma justiça que ainda não temos porque somos “ímpios”7.

Segundo, o mesmo apóstolo dirá em Romanos 10.10: “Pois com o coração é que se crê para justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação”. Paulo quer dizer que nós cremos “para a justiça” e confessamos “para a salvação”. Conclusivamente da mesma forma como a confissão não consiste em salvação, mas leva para ela; igualmente a fé não equivale a justiça, mas nos guiará a nossa salvação.

Terceiro, na epístola aos Filipenses, Paulo diz: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por amor de Cristo. E ser achado nele, não tendo por minha a justiça que procede da lei, mas sim a que procede da fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3.7,9). É preciso estar atento ao que precisamente diz o texto. O apóstolo não afirma que a fé é a nossa justiça, mas que, somos unidos a Cristo ou “achado nele” e assim temos “a justiça que vem de Deus”. Não adianta dizer que a justiça é de Deus Pai e não de Deus filho. Paulo diz que somos “achado nele”, portanto, a justiça que vem Deus é por Cristo e de Cristo. Somos justificados por estarmos em Cristo. E não podia ser diferente porque Efésios 1.4 diz que Deus Pai nos elegeu no filho, portanto todas as bênçãos salvíficas (eleição, justificação, santificação e outras) nos vem por causa de Cristo Jesus. Somente a graça e somente a fé são suficientes porque existe o somente Cristo.

E em quarto temos o texto mais importante da doutrina da justificação pela fé: “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). Esse texto responde a crítica católica em chamar a doutrina da justificação somente pela fé de “ficção legal”, pois segundo eles, ela declara alguém justo que de fato não é justo. Porém o apostolo diz que “somos feitos” justiça de Deus da mesma forma que Cristo “se tornou” pecador ao tomar nosso pecado. Ao fazer isso ele não se tornou moralmente pecador na imputação; igualmente nós não nos tornamos moralmente justos. Ele foi considerado como tendo nosso pecado; nós fomos considerados como tendo a justiça de Deus. Essa é a realidade da imputação e da justificação pela fé. Como disse Charles Hodge (1797-1878): “Como Cristo não foi feito pecado no sentido moral, assim nós não somos (na justificação) feitos justiça no sentido moral. Como ele foi feito pecado no sentido em que “levou nossos pecados”, assim somos feitos justiça no sentido em que levamos sua justiça. Nossos pecados foram a base judicial de sua humilhação sob a lei e a todos os seus sofrimentos, assim sua justiça é a base judicial de nossa santificação. Em outros termos, como nossos pecados lhe foram imputados, assim sua justiça nos é imputada. Se a imputação de pecado não o fez moralmente corrupto, a imputação de justiça não nos faz santos ou moralmente bons”8.


Referências bibliográficas

[1] Obras selecionadas vol 10, Martinho Lutero. Concordia, 2008. p. 34

[2] O que é teologia reformada, RC Sproul. Cultura Cristã, 2009. p. 55

[3] Muito antes de Lutero, Nathan Busenitz. Cultura Cristã, 2019, p. 126

[4] Somente pela fé, Thomas R. Schreiner. Cultura Cristã, 2017, p. 32

[5] Muito antes de Lutero, Nathan Busenitz. Cultura Cristã, 2019, p. 133

[6] Somente pela fé, Thomas R. Schreiner. Cultura Cristã, 2017, p. 29

[7] Justificados em Cristo, John Piper. Tempo de Colheita, 2011. p. 54

[8] Teologia Sistemática, Charles Hodge. Editora Hagnos, 2001. p. 1142



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